terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Have you heard about our new president?,

perguntou uma vizinha, já velhota, ao sair do elevador. Sim, ouvi :) Como não ouvir... a festa sente-se na cidade, nas banca de jornais, nos olhos das pessoas mais velhas, nos inúmeros “I never thought I’d live to see the day”. Nos numerosos ecrãs com transmissão directa espalhados pela cidade.

Eu vi a festa na Ilona, amiga turca que conheci há um par de meses e com quem fui comentando a cerimónia; vi a festa nas muitas pessoas que estavam connosco numa das três salas da faculdade onde ecrãs foram instalados para a ocasião – tudo de crachat ao peito, claro, Inauguration day at Teachers College, The Audacity of Hope; vi a festa nos olhos do Leonard, o americano – e negro – com quem divido agora o (seu) apartamento; no Salim, que veio do Omar e encarna na perfeição o sonho americano; com o John, meio maltês meio inglês, tão confiante nesta mudança; na Jaina e na Lisa, indianas, que desde há dias anunciam os seus planos para hoje; no irlandês que conheci na viagem, que aqui aterrou de propósito para ir a DC neste dia.

Não os vejo, pelo menos não a todos e nem sempre, encantados com a festa, com um “redentor”, ou simplesmente com a euforia. Vejo-os esperançados. Quase todos me falam da dificuldade dos tempos que se avizinham, das medidas que vão levar tempo a por em prática, do medo das expectativas demasiado elevadas ou da impossibilidade de rasgos de governação mais arrojados. Mas falam de tudo isto com a esperança e a confiança – mais ou menos serenas ou eufóricas – de quem não só anseia por uma mudança real como tem fé que este homem – um homem que é tão como nós que se engana no juramento e sorri com uma ternura quase comovente – que este homem será capaz de o fazer.

Foi hoje o primeiro atarefado dia de matrículas, mas tudo girou em torno da festa: Happy inauguration day to you!, How can I help?

Marta Cabral

(recém-chegada a NYC, ao Harlem e ao Teachers College, Columbia University)

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